Ainda não eram oito da manhã e já a criançada estava num
frenesim. Junto à entrada da escola, nem os suaves pingos de chuva serenavam a
algazarra. Os alunos do 2º ciclo iam para Lisboa e esperava-os um dia em cheio.
Ir ao teatro, viajar num barco pelo Tejo, ir ver dinossauros ao Pavilhão do
Conhecimento. Às oito em ponto, os professores iniciaram a chamada e os lugares
dos autocarros foram, prontamente, ocupados. A partida deu-se poucos minutos
depois. Uma viagem cinzenta até Lisboa; o Sol teimava em não despontar. Primeira
paragem: Teatro Politeama. Ruidosamente, os alunos aconchegaram-se nos lugares
do Teatro e …de repente, cenário, luz, som, fez-se silêncio e voámos até à Terra do Nunca, onde os meninos
nunca crescem e as fadas existem mesmo. O Peter Pan, a Sininho o capitão Gancho
espalharam magia entre os espectadores. É este o poder do teatro: deixar-nos
sonhar. Após Peter Pan ter-se despedido de nós, esperava-nos nova andança. O
próximo destino seria uma verdadeira novidade para os alunos. Os professores
tinham-lhes dito que iam andar de barco pelo Rio Tejo. A curiosidade dos alunos
era mais que muita: - O barco é muito
grande? Porque se chama Princípe Perfeito? Já alguma vez se afundou com
crianças lá dentro? Enfim, as interrogações próprias da idade. Assim que
saíram dos autocarros, as dúvidas dissiparam-se, tal como o céu cinzento e
chuvoso que num prodígio decidiu dar-nos as boas-vindas com luminosos raios de
sol. Pudemos desfrutar da viagem e do almoço ao mesmo tempo que sentíamos a brisa
a acariciar, levemente, os olhos brilhantes repletos de sonhos. O Mosteiro e a
Torre de Belém, o Cristo rei, o Padrão dos Descobrimentos, o Centro Cultural de
Belém e a Ponte 25 de Abril foram apreciados de longe e sob a suave ondulação
do Tejo. A Viagem já ia a mais de meio, mas a próxima paragem levava-nos a um
mundo extinto com criaturas enormes e ferozes que habitam no nosso imaginário. Estávamos
entre dinossauros. Criaturas que, custa acreditar, habitaram o nosso planeta há
milhões de anos. A imponência do Rex sobrepunha-se a todos os outros. Animal de
respeito, este Rex! O dia estava a findar, restava-nos nutrir os estômagos e
regressar aos autocarros para a viagem até à escola. Todos esperavam uma viagem
silenciosa e calma devido ao cansaço, mas… os alunos da Caranguejeira são bem
conhecidos pela sua energia, e os lanches da tarde deviam ter alguma poção
mágica que os tornava irredutíveis ao cansaço, pois a viagem foi tudo menos …como
dizer…silenciosa. Quais rouxinóis (ou nem tanto) afinaram as goelas e berraram
(desculpem, cantaram) durante toda a viagem. Quando chegámos já o Sol se tinha
intimidado com a Lua. Todos recolheram às suas casas. Tenho a certeza que os
professores retornaram à meninice e escoltaram os alunos numa noite de fantasia
onde éramos os heróis da Terra do Nunca a travar arriscadas lutas contra o
capitão Gancho, em barcos que deslizavam sob o Tejo, ou onde nos perdíamos num
mundo repleto de criaturas monstruosas e ferozes, mas sempre com um final feliz,
pois no derradeiro momento seríamos, sempre, salvos por uma fada. Sim, porque as
fadas existem mesmo, ou não acreditam?
Professor António da Silva Mendonça
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